Graças ao Azenha, que usou um comentário que fiz sobre a decisão do Ministério da Cultura de se desvincular do Creative Commons como post, muitas foram as indagações e maiores os questionamentos que sofri. Uns, talvez incomodados por certos termos usados por mim, ultrapassaram o limite do razoável e da civilidade, o que me desobriga a qualquer tipo de resposta. Mas, para facilitar, vamos por partes. A ligação entre os termos servilismo e colonizado é um fenômeno histórico, pois, um dos mais claros sintomas de uma mente colonizada, sob domínio, é ser servil ao dominador e à sua ideologia.O servilismo é facilmente identificável naquela atitude que recorda o Henfil e o "Sul Maravilha", quando qualquer novidade saída dos centros metropolitanos é algo fantástico, que deve ser imediata e prontamente adotado.
Uma das mais graves características da "inteligentsia" brasileira é o acriticismo ante o que é produzido nos grandes centros capitalistas e se vier com todos os badulaques dos gadgets informáticos, aí, não só deve ser adotado e louvado, mas elevado ao patamar do dogma irrecorrível e inegável.
E assim, graças a esse tipo de alienação, tornam-se incapazes de ver a floresta, tão preocupados que estão em analisar e dissecar uma única árvore. É o atual caso, em que tudo indica existir um projeto de assenhoreamento e domínio de toda a produção cultural do mundo, tudo em nome de uma duvidosa divulgação "universal" da obra cultural, numa maliciosa interpretação prática daquele axioma pseudo-existencialista do "fale mal, mas fale de mim".
Uma divulgação que pode muito bem servir para a completa destruição das características essenciais de uma obra: imaginemos a "Construção"do Chico em ritmo funk. O resultado seria fatal para a música e seu propósito político histórico. E assim é toda a lógica que permeia os objetivos ideológicos do CC. Um quadro que fica mais fácil de se entender quando a gente verifica que, no atual momento, a única vantagem que o império ainda tem sobre o resto do mundo, fora as armas, é a sua alta tecnologia voltada para o campo dos espetáculos, mídia e diversão, um fato que pode lhe garantir a padronização cultural e o total controle sobre a produção cultural de todo o mundo, que ficará dependente do quão massivo é o interesse do sistema em tal ou qual produto.
Embora seja contra qualquer tipo de quebra de patente que lhe pertença, o império precisa evitar esse tipo de proteção por parte dos outros povos e países. No caso do CC, como os seus principais mentores e financiadores pertencem aos ramos do entretenimento e informática, além do sistema financeiro, é natural que mais cedo ou mais tarde realizem operações ao estilo do Google, Facebook. etc.., com o total e completo domínio sobre o que está sendo divulgado por lá.
Há também a questão de "levar vantagem em tudo", o que implica na apropriação e uso gratuito de tudo aquilo que circule pela web. É o sonho dourado da pequena-burguesia – consumir tudo sem gastar nada(sic). Quanto a questão da "democratização do conhecimento" em estruturas capitalistas é tão falso quanto uma nota de 3 reais. Se o conhecimento é de domínio universal, então o sistema capitalista terá de abrir mão de tudo aquilo que se apropriou de forma indébita, como o domínio das ciências e do trabalho que o produziu. Ou seja, é de uma irrealidade objetiva completa e aí vem aquela célebre pergunta do Hobbes – Cui bono?
Como o que o Azenha publicou foi um simples comentário, ficou evidente que não podia abordar tudo o que o tema propiciava direta ou indiretamente, embora estivesse implícita a crítica ao sistema, pois, ainda não consegui ver nenhuma bondade no capitalismo. O resto pode ser compreendido com a leitura do livro "A Armadilha da Globalização" (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=8525021369&sid=87154518413127378663733632), que de forma didática e bem documentada mostra a realidade do nosso mundo. Quanto aos especialistas em CC, a questão é de outra natureza, não tem relação alguma com o uso de softwares abertos ou não.Tentar fazer com que o debate se processe neste campo, além de ser um sofisma é uma velha técnica para evitar o debate essencial , pois, defender a posição do MinC não é o mesmo que apoiar grandes empresas multinacionais e brasileiras que operam no mercado cultural. E quanto aos produtores culturais que desejam dispor de suas obras da forma mais aberta possível, é um direito deles, jamais uma obrigação e assim deve ser sempre entendido.
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Por: Pedro Ayres
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